“Escândalo acaba com jornal de 168 anos
O escândalo das escutas telefônicas ilegais fez o magnata Rupert Murdoch fechar o jornal dominical de maior circulação no Reino Unido.
Depois de amanhã será publicada a última edição do ‘News of the World’, que foi criado em 1843 e vende em média 2,7 milhões de exemplares a cada domingo.
Para muitos, é uma tentativa de Murdoch esfriar o caso e acabar com um título que parecia condenado após os principais anunciantes do Reino Unido cancelarem contratos de publicidade (…)
O escândalo começou em 2005, quando surgiram suspeitas de escuta ilegal de mensagens em telefones de funcionários da família real.
A polícia investigou e dois anos depois concluiu que era um caso isolado. À época, um repórter e um detetive que trabalhavam no jornal foram presos.
Mas novas denúncias e investigações provaram que as escutas eram rotina no jornal, em sua busca por informações exclusivas de casos policiais ou escândalos sexuais de celebridades.
‘O negócio do 'News of the World' é chamar os outros à responsabilidade. Mas o jornal não foi capaz de agir assim com relação a si mesmo’, disse James Murdoch, vice-diretor de operações da News Corporation (…)
Andy Coulson, que era editor do jornal em 2005 e depois foi secretário de Comunicação do primeiro-ministro, David Cameron, pode ser preso ainda hoje.
O ‘News of the World’ tem uma importância simbólica para Murdoch. Foi o primeiro jornal a ser comprado por ele no Reino Unido, em 1969.
A partir dele, o empresário criou seu império de comunicação no país, que inclui os jornais ‘The Times’ e ‘Sunday Times’, os canais Sky e 39% da BSkyB, a maior provedora de TV por assinatura no Reino Unido”
Hoje vamos falar de grampos, sigilos, ONs e OFFs.
Você pode gravar uma conversa? Pode. Um jornalista pode gravar uma conversa com sua fonte ou qualquer outro entrevistado, da mesma forma como eu ou você pode gravar uma conversa com nossas mães, namorados, amigas ou desconhecidos.
Você precisa avisar que está gravando? Do ponto de vista legal, não. Do ponto de vista moral, é bom, ou você pode perder sua fonte. Se a conversa é entre você e outra(s) pessoa(s), não há qualquer problema em você gravar sem avisar. Você está gravando a sua conversa. Se a(s) outra(s) pessoa(s) envolvida(s) resolve(m) falar o que não queria(m) ver divulgado, deveria(m) ter tomado mais cuidado. Ninguém a forçou a falar o que não queria, mesmo sabendo que você estava ali. Se você está do outro lado da conversar, ou seja, se você está sendo entrevistado, a melhor dica é sempre suspeitar que a outra pessoa pode estar gravando (aliás, esse foi um dos eventos que aconteceram na matéria acima. O ator Hugh Grant filmou escondido sua conversa com um dos repórteres do jornal no qual o repórter falava que o jornal estava cometendo crimes).
Mas reparem que não foi isso que aconteceu na matéria acima. E é aí que está o problema: os jornalistas interceptaram conversas nas quais eles não estavam envolvidos. Conversas de terceiros. Grampearam os telefones, invadiram as mensagens de voz das vítimas etc. É a mesma coisa de alguém que entra na casa de um estranho, abre sua gaveta e furta as cartas e depois as publica. Não é a publicação em si que é o problema: é a invasão. A publicação está dentro da liberdade de imprensa e informação. A invasão da privacidade, não. É por isso que o editor na matéria acima pode ser preso. Ele cometeu um crime se autorizou ou mandou que seus jornalistas violassem a privacidade das vítimas. Aliás, vimos aqui, nesta semana, a situação do jornalista que divulga informação que recebeu de alguém que violou a privacidade de terceiro.
E se a conversa é em off, pode gravar? (off é como os jornalistas chamam as conversas que em que as duas partes concordam que o conteúdo da conversa não será divulgado ou que o conteúdo será divulgado, mas não a sua fonte). Qualquer pessoa envolvida no diálogo pode gravar a conversa em off. Mesmo sem dizer à fonte (da mesma forma como uma fonte pode usar um detector de grampo para saber se o jornalista está gravando a conversa, e boa parte das grandes empresas e repartições públicas têm equipamentos para detectar gravações telefônicas/grampos).
Você pode divulgar o que gravou se a conversa foi em off? Essa é uma questão um pouco mais complicada. Em teoria, não, pois houve um contrato entre as partes, e a quebra desse contrato pode gerar danos materiais e morais. Um contrato verbal, contudo. Se fosse escrito, seria mais fácil provar que o jornalista violou o contrato. Mas nenhuma fonte que fala em off assina um contrato com o jornalista porque seria arriscado assinar um contrato falando que ela – a fonte – está contando um segredo ou fofocando algo a respeito de seu desafeto para um jornalista (seria como deixar uma carta na frente do banco dizendo que foi você quem roubo o cofre). Por isso a maior parte dos acordos de off são verbais. Pior: entre duas pessoas. Normalmente não há testemunhas. Então não há como a fonte provar que havia um acordo de manter em off. É a palavra dela contra a do jornalista. Pior: mesmo que houvesse, elas nunca estipularam qual seria a punição pela quebra do acordo. Por isso o 'acordo' entre fonte em off e jornalista tem força moral, mas quase nunca força jurídica.
Em resumo, se você for a fonte e quiser falar em off, tome cuidado. Saiba com quem você está falando, presuma que a pessoa está gravando, e que a pessoa poderá divulgar. Se, levando essas três coisas em consideração, você ainda está certo que vale a pena falar, vá em frente. Caso contrário, pense duas vezes sobre o que irá dizer.